Me
arde uma alegria, que não aceita ser felicidade, porque a felicidade é
uma palavra muito longa e a alegria tem pressa. Uma alegria de deitar na
grama e sentir que está molhada e não se importar com a roupa orvalhada
e não se importar com a hora e com os modos, uma alegria que é
inocência, mas sem culpa para acabá-la.
Uma alegria que é
descobrir os objetos no escuro. Uma alegria repentina, que me faz
entortar o rosto para rir, que não me faz pôr a mão na boca com medo dos
dentes, que me impede de me proteger. Uma alegria como um tapete que
fica somente curtido no centro. Uma alegria de ficar com pena dos anjos e
de suas asas pesadas como duas montanhas nas costas, suas asas como
dois irmãos brigando em dia de chuva.
Uma alegria de perceber que quanto mais gasto o tempo com os outros
mais
sobra para mim. Uma alegria que não volta para a estante porque não
saiu de nenhum livro lido. Uma alegria que se antecipa e faz sala ao
quarto.
E quase me faz acreditar
que sou possível!...
Carpinejar
E quase me faz acreditar
que sou possível!...
Carpinejar
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